À CONVERSA COM ANA DE QUINA
Escrever está no destino!
Ana de Quina nasceu a 21 de Março de 1987 e é uma apaixonada por coisas simples, considerando-se optimista e sonhadora. Gosta de desenhar, ver filmes, ouvir música, passear, ler e escrever. Ambiciona um dia ter a sua própria biblioteca e um local onde possa reunir todos os escritores para se sentirem inspirados. Publicou o seu primeiro livro em Fevereiro de 2014 com a Chiado Editora – "Páginas do tempo."
Débora: Qual é o seu livro preferido e porquê?
Ana: Ui, isso é uma questão difícil mas o meu livro favorito é "A máscara Veneziana" da Rosalind Baker. É um romance histórico que se passa em Veneza, com rivalidades familiares e amores quase a lembrar Romeu e Julieta. Tenho que eleger este como o favorito porque o li umas 4 ou 5 vezes. Mas adoro livros de fantasia e aventura como o "Harry Potter" e "Sherlock Holmes". Não me parece que a minha escrita se aproxime de outros autores, mas cada vez mais aprecio escritas simples, como Eça de Queirós e Júlio Dinis, os clássicos. Considero sim que houve um escritor português que influenciou muito a minha escrita, mas a nível de estilo. Depois de ler Pedro Paixão apaixonei-me pela escrita livre e contos breves e tem sido esse estilo que tenho explorado mais do que propriamente o romance.
Débora: Quando é que ganhou o gosto pela escrita?
Ana: Lembro-me que comecei a escrever quando tinha 12 anos. Imaginava histórias e escrevia contos. Comecei a escrever um romance mais ou menos com essa idade, mas acabei por deixá-lo no fundo da gaveta e só a minha mãe é que leu o início. Aos 14 anos comecei a escrever o que hoje é o livro "Páginas do tempo" que teve muitas interrupções pelo caminho. Pelo meio escrevi muitos contos. Acho que me apaixonei pela escrita quando me ofereceram um diário quando era miúda e como não tinha irmãos com quem partilhar o meu dia a dia nem brincar, a escrita era o meu refúgio. Sempre vi a escrita como uma forma de terapia, de falar sem sermos ouvidos. Depois de começar nunca mais parei, daí ter pensado em editar e tentar crescer enquanto escritora. Se pudesse era escritora a tempo inteiro, mas já sabemos que não é possível, pelo menos para quem está a começar.
Débora: Quando e porque é que decidiu publicar um livro?
Ana: Quando tinha mais ou menos 17 anos pensei em publicar mas depois achei que era demasiado cedo e que não estava preparada para isso. Publicar sempre foi uma hipótese que acabava sempre por rejeitar ou por de parte, porque queria mostrar o meu trabalho mas ao mesmo tempo tinha medo da recepção do público, de ser mal interpretada ou simplesmente não gostarem. Entretanto os poucos amigos que sabiam que eu escrevia andavam sempre curioso para saber do meu trabalho e os meus pais também não sabiam o que andava a escrever tanto e ficava sempre tudo na gaveta... Até ao dia em que decidi arriscar e tomei coragem de enfrentar o meu maior medo: editar um livro. Foi numa fase complicada da minha vida porque não me sentia realizada a nível pessoal e profissional e achei que precisava de um empurrão e de arriscar em algo novo e foi então que decidi editar e confesso que estou ansiosa para voltar a editar outro. Senti que realmente me estava a fazer falta tomar essa decisão e partilhar esta grande paixão com o público, sem medos.
Débora: Então quanto tempo é que andou ali depois de já ter a obra finalizada?
Ana: Uns meses. O que atrasou a decisão de editar ou não foi mesmo escolher o final do livro. Andava muito indecisa sobre o final que ia escolher, uma vez que tinha várias hipóteses em cima da mesa. Depois houve a fase de escolher editoras, a rejeição ou a não resposta, até chegar à Chiado e dar o passo em frente para ver um sonho tornado realidade.
Débora: Quais eram as outras hipóteses para o final?
Ana: Ui... Um dos personagens principais morrer, os dois personagens principais ficarem juntos, a Camila ser uma mulher independente e ficar sozinha... Um mar de situações um pouco previsíveis e era isso mesmo que eu não queria. Não queria apenas um final feliz ou uma história igual a outras tantas mas sim que se centrasse mais na questão de destino e no facto de nem sempre podermos controlar as coisas à nossa volta, principalmente no que toca a sentimentos. Também pensei dividir a história em dois livros e prolongar um pouco mais a parte final mas tive medo que o encanto das personagens principais se perdesse pelo caminho e também não queria escrever uma saga. Acho que consegui o que queria e manter a simplicidade da história.
Débora: Como surgiu o título?
Ana: Sinceramente nem eu sei bem. Acho que sempre foi o título que pensei para esta obra e que fez sentido depois de tantas pausas, tantas mudanças e tanto tempo passado... Era mesmo um acumular de páginas que o próprio tempo tinha ditado, daí não ter sequer pensado noutro título.
Débora: Acredita no destino? Que há pessoas que estão destinadas a ficar com outras?
Ana: Acredito muito. Podem não estar destinadas a ficar juntas mas pelo menos destinadas a encontrar-se. Não sei porquê mas acredito muito em vidas passadas e que nada na nossa vida acontece por acaso. É esse o meu lema de vida.
Débora: Como descreve a sua escrita?
Ana: Descritiva e quase cinematográfica. Gosto de escrever como se imaginasse uma câmara a fazer zoom em algum detalhe ou a abrir um plano para uma grande cena. Gosto muito de descrever cenários e emoções e sou completamente obcecada pelo olhar. Acho que como no dia a dia dou importância a pequenas coisas e detalhes e faz com que as coisas se tornem especiais para mim, também tento passar isso para o que escrevo.
Débora: Mudava alguma coisa no seu livro?
Ana: Acho que não. Estou bastante satisfeita com o que fiz embora haja sempre tendência a mudar algo e por isso ter demorando tanto a acabar. Nunca estamos satisfeitos e sei que daqui a uns anos vou pensar que talvez devia ter feito algo diferente mas por agora acho que está bem como está.
Débora: Qual é parte do seu livro que mais gosta e porquê?
Ana: Hum essa é uma pergunta difícil. Gosto muito do final mas gosto muito da intensidade com que a Camila vive as coisas e a relação atribulada que tem com o Eduardo. Também gosto muito do romance da Júlia que embora seja uma relação mais madura também tem muitos pontos fracos. Acho que há momentos muito divertidos e dramas próprios da adolescência e que nos tornam em pessoas adultas e nos moldam com essas experiências. Confesso que não gostei muito da Jéssica quando decidi criá-la ou como costumo dizer, quando a história assim o pediu, mas acho que aos poucos vamos entendendo a personagem e aceitar melhor o facto de ela aparecer.
Débora: O que diz o seu coração?
Ana: Diz sempre para seguir os meus instintos e ir atrás dos meus sonhos... É o que tenho feito.
Débora: O que gostaria de dizer para finalizar esta entrevista?
Ana: Aos leitores gostaria deixar uma mensagem positiva e claro a vontade de descobrir o meu livro e não olharem para ele como apenas mais um romance. Gosto de pensar que quem já teve a oportunidade de o ler o faça olhar para o passado e recordar momentos que possam ter sido esquecidos. Infelizmente sinto que muita gente cresce e se torna adulto e se transforma em pessoas que esqueceram depressa demais coisas importantes como a amizade, a família e o próprio amor e espero que o meu romance faça entender que pode ser por acaso que alguém entra na nossa vida mas não é por acaso que permanece... E nada, mesmo nada, acontece por acaso.
Débora: Obrigada, muito sucesso para si!
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Foto: Concebida pela autora