À CONVERSA COM ANTÓNIO PRADA JERÓNIMO
Escrever como forma de desabafo!
António Prada Jerónimo nasceu a 27 de Maio de 1955 e considera-se uma pessoa que gosta muito de cinema, televisão e de ler um bom livro, seja do género que for, para ele o mais importante é iniciar a leitura, depois o difícil é parar. Já publicou dois livros: "Carção, sonho e alma" em 2009 (edição do autor) e "Versos da madrugada" em 2016 com a Chiado Editora.
Débora: Quando é que começou a escrever?
António: Comecei a escrever com 14 anos, enquanto cursava na escola técnica de Bragança (curso geral de mecânica), porque sempre tive grande curiosidade com o mundo que me rodeia e sempre fui muito sensível com o amor, a guerra, a justiça , ou a falta dela, com as pessoas e com a vida! Na verdade com tudo que nos possa fazer ou impedir de sermos felizes...
Débora: Como é que surgiu a publicação do primeiro livro?
António: Foram os amigos e a família que incentivaram... Pela minha parte havia um secreto desejo de me dar a ler. Depois houve uma pessoa muito importante neste processo, o Dr. Paulo Lopes, director da "Revista Almocreve" que se publicava em Carção em Agosto (ultimamente não tem havido mais números), com o intuito de o distribuir conjuntamente com a revista aconteceu a edição do meu livro. A ele, à Câmara Municipal de Vimioso e à Junta de Freguesia de Carção, eu estarei sempre grato pela oportunidade e êxito que tive com o primeiro livro.
Débora: Desde a publicação do primeiro livro até a edição do segundo livro, passaram-se 7 anos, o que aconteceu? Como nasceu "Versos da madrugada"?
António: Muito simples, o segundo livro esteve agendado para 2011, estava pronto para impressão como edição de autor, na mesma gráfica onde foi produzido o primeiro... Foi na altura da crise e alguns apoios prometidos falharam e não foi possível concretiza-lo... Em 2015, um ano muito complicado em termos familiares, estive 4 meses fora do país a acompanhar um dos meus filhos que sofreu um acidente... Aí, comentando na Net algumas páginas de outros autores, acabei por chegar ao contacto com uma senhora, Íris Pitacas, na altura directora comercial da Chiado editora, que culminou com a publicação.
Débora: Como foi viver esse período controverso, tendo de adiar durante tanto tempo a publicação do seu livro?
António: Foi pacífico... Eu não escrevo com o intuito de publicar... Para mim escrever é um estado de alma. O intuito é satisfazer o meu orgulho, o meu amor, a minha paixão e a minha luta pela justiça social. Ao por no papel todos os meus anseios e vontades que gostaria que a vida e o mundo almejassem... Se vive-se com o propósito primeiro de publicar, já teria publicado muita coisa que escrevi desde os meus tempos de escola... Na verdade não vivo obcecado com isso. Aliás as duas publicações que fiz foram quase fruto do acaso.
Débora: Apesar de ser fruto do acaso, qual foi o sentimento, ao finalmente, depois de falar com a directora comercial da Chiado Editora, saber que a edição do seu livro ia acontecer? Como foi saber que tinha uma editora interessada no seu trabalho?
António: Foi apaziguador... Quer dizer: foi muito tranquilo. Primeiro porque não tive ilusões e sempre julguei que não teriam qualquer interesse... Depois porque na primeira negociação fui eu que não aceitei publicar por culpa das condições oferecidas. Depois numa segunda fase, quando as condições foram revistas, foi como se a publicação já fosse inevitável... Por isso nem a tristeza nem o rejubilar foram desmesurados.
Débora: Como decorreu o lançamento do seu segundo livro?
António: Foi um momento intenso. Pelo lançamento em si e pelo facto de nesse dia estar envolvido com a festa de Carção (que como sabem fui o juízo em 2016). Na verdade o lançamento ocorreu na abertura do 1º Festival dos Livros em Carção, e todo o trabalho de organização tenho que agradecer a ti e tua mana, a quem presto o tributo publicamente. Obrigado Sara e Débora pelo carinho e disponibilidade demonstradas.
Débora: Como surgiu o título “Versos da madrugada”? O que aborda este seu segundo livro?
António: O título tem a ver com os momentos da escrita que, no meu caso, escrevo preferencialmente de madrugada, quando o meu eu se encontra com o meu ego. Quando de verdade domino o tempo e o pensamento. Quando eu mais facilmente me encontro... O teor do livro, ao contrário do primeiro que era mais intimista e simultaneamente um espelho da minha própria personalidade, o "Versos da madrugada" contém uma poesia mais adulta e mais voltada para o social nas vertentes da minha terra enquanto berço, do amor enquanto universal, da vida enquanto única e efémera tantas vezes desprezada pelos nossos " tiranos" e do pensamento enquanto liberdade e vontade de realização.
Débora: No que se inspira para escrever?
António: Inspiro-me na vida. No amor, na paz na guerra na justiça e na injustiça e sobretudo na vivência e convivendo com o sofrimento... Muitas vezes um poema brota de uma frase que oiço, do título de um filme ou do verso de uma canção... E sim, muitas vezes de peças televisivas que relatam todas as maleficências que vão corroendo o nosso mundo. E tento não ter exemplos literários. Se os seguisse inexoravelmente acabaria por os copiar...
Débora: Há novidades para breve? Outras publicações? Se sim, o que podemos saber sobre isso?
António: Não estou para já em condições de dar detalhes... Mas sim penso reunir poemas e textos antigos e eventualmente publicar. Mas se tal acontecer só daqui um/dois anos.
Débora: O que diz o seu coração?
António: Diz-me que amo a vida, o ser humano em geral e muito particularmente a minha família e os meus amigos... E que sofro pelo rumo que o mundo leva, mas diz-me que não devemos perder a fé e a esperança de que tudo pode mudar... Para melhor!
Débora: O que gostaria de dizer para finalizar esta entrevista?
António: Que eu só escrevo quando de alguma maneira, o mundo me toca e infelizmente toca-me tantas vezes pelas piores razões... Resta-me a esperança e a fé de que o mundo encontrará o seu melhor caminho.
Débora: Obrigada, muito sucesso para si!
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Foto: Concebida pelo autor