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À CONVERSA COM ISABEL MACHADO

Da história se fazem novas histórias!


Isabel Machado nasceu a 15 de Dezembro de 1961 e considera-se uma pessoa sensível, alegre, impaciente e idealista. Gosta de viajar, passear pelas cidade portuguesas, jardinar, conversar à volta de uma mesa, de ir ao cinema e de ler. Actualmente é jornalista e já publicou três livros com a Editora Esfera dos Livros: "Isabel I de Inglaterra e o seu médico português" em 2012, "Vitória de Inglaterra, a rainha que amou e ameaçou Portugal" em 2014 e "Constança, a princesa traída por Pedro e Inês" em 2015.

Débora: Qual é o livro que mais a marcou até hoje?


Isabel: É quase impossível responder à primeira pergunta. Houve muitos. Depende das fases da vida, do momento, do que a nossa memória selecciona mais tarde, daquilo que nos deixa esquecer. Vou partir deste último ponto para dizer que, se calhar, - e não querendo falar dos contemporâneos, portugueses ou não, muitos excelentes, por uma questão de cortesia para todos os outros de quem me poderia esquecer - Jean Jacques Rousseau, Marcel Proust ou Emile Zona marcaram-me muito na juventude, mas também Eça de Queiroz - sempre! - Ou Pessoa, ou Sophia de Mello Breyner ou, na literatura americana, Walt Whitman. Anna Karenina é tão inesquecível como a Madame Bovary de Flaubert ou O Primo Bazílio, de Eça. Não sei mesmo. O meu crescimento e formação levaram-me por muitos sítio, lugares físicos e não só. Não consigo eleger um.


Débora: Quando é que começou a escrever?


Isabel: Sempre escrevi. Para mim, para revistas, para a televisão. Mas comecei a escrever a tempo quase inteiro, romances históricos, em 2012 quando decidi abandonar o Canal Parlamento por questões de saúde.


Débora: Como surgiu a oportunidade de publicar o primeiro livro?


Isabel: Foi um desafio que me lançaram e a que eu disse logo que sim.


Débora: E, como decorreu o desafio de escreve-lo?


Isabel: O processo de escrever um romance é instável. Há de tudo. Desde a exaltação dos momentos em que estamos felizes com o que sai, ao desespero, à extrema ansiedade… É um trabalho muito solitário, pelo menos o meu é, nunca mostro quase nada a ninguém até ao momento em que entrego o livro completo nas mãos do editor. Por ser solitário, temos de conviver com os extremos: a segurança e a dúvida…


Débora: Qual é o principal motivo de somente mostrar o que escreve no final?


Isabel: Não sei responder com total clareza a essa pergunta. Penso que é receio de maçar alguém com livros extensos, é também falta de tempo, mal acabo um livro entrego nas mãos do editor. Já cheguei a mostrar um ou outros capítulo, raramente e a muito poucas pessoas, uma ou duas, mais nada.


Débora: Como surgiram os títulos?


Isabel: Os títulos foram escolhidos para serem claros, acima de tudo. O primeiro, sobre Isabel I de Inglaterra, tinha a preocupação de mostrar que não era um romance histórico sobre Isabel I, mas sim, uma conjugação, a ligação da sua vida com a de um português, seu médico pessoal e espião da corte Britânica, num momento crucial da história de Portugal: 1580 e a perda da independência. O segundo romance também; era preciso explicar que o livro não era uma obra sobre a rainha Vitória de Inglaterra, mas o cruzamento do Século XIX Português e Inglês, através das intensas ligações pessoais e políticas da rainha Vitória com Portugal. Este terceiro, Constança, a princesa traída por Pedro e Inês, seguiu a mesma linha; pretendia clarificar que se tratava de uma personagem que ia trazer aos leitores uma outra leitura, uma perspectiva inteiramente nova sobre factos que pareciam inquestionáveis. Neste caso, o romance entre D. Pedro e Inês de Castro.


Débora: Sendo os seus livros romances históricos, como é que procede antes de começar a escrever? Faz algum tipo de investigação?


Isabel: Faço muita investigação. Leio muito, vou aos locais sempre que posso, até no caso dos romances passados em Inglaterra, vejo minuciosamente os costumes da época. Nunca deturpo os grandes factos históricos, mas crio livremente a minha história, os pensamentos e os diálogos das minhas personagens, sempre preocupada com o que é plausível no contexto e época em questão.


Débora: Como descreve a sua escrita?


Isabel: Acho que a minha escrita é muito visual, também muito centrada no trabalho sobre as personagens e a sua complexidade, com recurso ao contraste, seja nos diálogos, na descrição ou na narração. Acho que o contraste faz parte de nós, mesmo que não gostemos de o assumir. Ninguém e nada é uno, monolítico. Gosto do humor subtil também, a par do absurdo. Há algum idealismo, apesar de tudo, para quem leia mesmo com atenção…


Débora: Qual é a sensação, ao deslocar- se a um centro comercial, e ver os seus livros à venda?


Isabel: Para dizer a verdade, a sensação mais forte é a de alívio. Depois dos últimos meses de trabalho intenso e da revisão, é, acima de tudo, uma sensação de dever cumprido. De respirar fundo...


Débora: O que diz o seu coração?


Isabel: Acabo por seguir a versão que me interessa mais, que me encanta, que me aprece mais plausível. Depende. Eu entusiasmo-me imenso com as personagens, com os factos, com o que poderia ter sido, como teria sido… Encanto-me com algumas personagens mais do que com outras, mesmo que não seja nada notório para os leitores, tenho sempre favoritos, que vou trabalhando, deixando alguma pistas!


Débora: O que gostaria de dizer para finalizar esta entrevista?


Isabel: Gostaria de dizer que leiam romance histórico, é um género fabuloso. Mas leiam com abertura. Preparados para aprender os grandes factos mas, sobretudo, para aceitar a criatividade e a liberdade do autor. É um género literário interessantíssimo, mas nunca se deve perder de vista que a ficção deve ter um papel preponderante.


Débora: Obrigada, muito sucesso para si!

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Foto: Concebida pela autora


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