À CONVERSA COM LILIANA FERNANDES
Porque acredita e confia!
Liliana Fernandes nasceu a 19 de Novembro de 1992 e é uma pequena grande lutadora. Gosta de praticar desporto, dançar, conhecer novas culturas, experimentar novas comidas, ver filmes, ouvir música e de ler. É finalista no curso de enfermagem e publicou o seu primeiro livro em Junho de 2015 com a Chiado Editora – "Amor de mãe não tem número".
Débora: Qual é o livro que mais a marcou até hoje?
Liliana: É muito difícil escolher um, podia falar sobre “A saga de um pensador”, “Às terças com Morrie”, “Antes de eu morrer”, “O dia que Sócrates vestiu jeans”, “A lua de Joana”... Acho que no fundo, são aqueles que nos ensinam a ver outros lados da vida, a pensar sobre os passos que damos, as atitudes que temos, sem nos impor nada, ensinam-nos muito. “A lua de Joana” é fantástico pela forma como a sua descrição do mundo das drogas é tão pormenorizada que desfaz a vontade de experimentar... Ela dá-nos a experiência sem termos de passar por ela (foi o que senti na altura, quando o li na adolescência, com cerca de 13/14 anos).
Débora: Quando é que começou a escrever?
Liliana: Quando precisei (há muitos anos)... A escrita é a minha melhor amiga, o meu ombro, a quem desabafo quando assim tem de ser, com quem, geralmente, partilho as minhas dores, mágoas, tristezas ou revoltas. Escrevi sempre em folhas soltas, um dia decidi escrever mais umas quantas, novamente sobre algo que mexia comigo
Débora: Quando é que surgiu a oportunidade de publicar um livro?
Liliana: Olhei à volta e, uma vez mais, vi coisas no mundo que quis mudar, vi coisas que não gostei, vi amigos sonhar alto enquanto lhes cortavam as asas e achei que podia fazer uma pequena diferença. Se me causou revolta, acabei a escrever sobre tal... E, depois, aventurei-me, tentei chegar ao público e tentei fazer passar a mensagem, que é para crianças dos 8 aos 80 anos. Essa oportunidade surgiu no passado ano.
Débora: Como decorreu o processo de edição?
Liliana: Primeiro contactei algumas editoras e apresentei a obra (sem ilustrações ainda), tive algumas respostas e avaliações, com atenção, para tomar uma decisão. Foi um processo demorado... Antes de seguir com o contrato, enquanto passava o Natal na Madeira com os meus pais, tios e primos, entreguei à minha prima de 8 anos a obra, que ela leu (ou devorou) em cerca de 40 minutos. No fim, perguntei-lhe (receosa com a mensagem que poderia não ter chegado) e a resposta foi “uma família é feita por duas pessoas que se amam mesmo que não seja um homem e uma mulher!” Se com 8 anos ela entendeu tão bem a simplicidade da mensagem não havia motivos para não prosseguir... E ela ilustrou as páginas desta obra, chama-se Júlia Martins, mas já depois de tudo avançado o processo é um pouco demorado. É bom (e estranho) vermos o nosso trabalho publicado e disponível nas livrarias.
Débora: O que é que mais gostou de escrever neste seu primeiro livro?
Liliana: Gostei muito do final que me surgiu quando estava a terminá-lo. Foi assim, sem ter previamente pensado nele... Surgiu no momento e amei a inspiração, à parte isso, também relativo ao final, gosto de como a naturalidade é percepcionada pelo leitor, faz-me sentir capaz de despertar sentimentos nos outros, fazê-los sentir o que eu sinto, pela escrita!
Débora: Como surgiu o título? Porque "Amor de mãe não tem número"?
Liliana: O título surgiu durante a escrita, nem antes, nem após... Quando escrevo, por vezes, fica difícil expor tudo para o papel. Parece que todas as ideias parecem confluir no mesmo momento. Mas, com um título é bem mais fácil de gerir... Aponta-se logo à parte e no fim ajusta-se a adequação. Também gosto que os leitores entendam o seu significado quando terminam a última página, e depois me digam “Ahhhh! Já percebi o título. Bem pensado!”
Débora: Qual foi a sensação de ter pela primeira vez o seu livro nas mãos? Como descreve esse momento?
Liliana: Eu gostava de dizer que é aquela sensação de ter um filho nos braços, mas ainda não posso usar essa expressão, por isso imagino que assim seja. Mas, mais que nas mãos é vê-lo nas livrarias, e melhor que isso... Nas mãos das crianças, é estranho e tão bom ao mesmo tempo!
Débora: Como descreve a sua escrita?
Liliana: Aqui: rápida, certeira, concisa! Exactamente como planeei que fosse, quando decidi que seria um livro infantil. À parte isso, é, sempre, sentida. Noutros contextos (não-infantil) ela ganha outros contornos, mais abstractos, mais metafóricos, mais românticos. Pode ser que tenham oportunidade de conhecer essa outra escrita em breve.
Débora: Tem novidades para breve?
Liliana: Espero ter novidades para breve sim. Escrevendo à medida que a mente pede. Noutro registo... Uma história real, um romance cheio de “desromances”...
Débora: O que diz o seu coração?
Liliana: O meu coração, diz tanta coisa... Algumas saem para o papel, outras pelos sorrisos, lágrimas, gargalhadas... Outras ficam para mim. O meu coração dizia que um dia a aceitação ia chegar e, logo após o meu aniversário, no dia 20 de Novembro, Portugal viu legalizada a adopção homoparental. O meu coração acredita, confia, apoia, mas só até ter motivos para o fazer... Porque também se magoa.
Débora: O que gostaria de dizer para finalizar esta entrevista?
Liliana: Não percam nunca a oportunidade de pôr um livro nas mãos de uma criança... Hoje, num café, metro, autocarro, olhamos à volta e vemos pessoas vidradas no ecrã de um dispositivo electrónico acedendo a uma vida que, muitas vezes, não é real... Um livro, mais do que um entretenimento, deve ser uma oportunidade de transmitir algo, de educar, de ensinar...
Débora: Obrigada, muito sucesso para si!
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Foto: Concebida pela autora