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À CONVERSA COM LÚCIA JOSÉ GOMES

Escrever para sossegar o coração!

Lúcia José Gomes é como Lúcia Gome Lemos assina, o pseudónimo José é uma homenagem ao seu pai. Nasceu a 30 de Maio de 1969 em Aveiro e descreve-se como sendo uma pessoa persistente e decidida. Gosto de estar na companhia dos seus filhos, de ler e escrever. É professora de português e francês desde 1992 e já publicou com a Chiado Editora dois livros: "Renomeados" e "Percursos de insanidade".

Débora: Qual é o livro que mais gostou de ler até hoje?


Lúcia: Muitos, mas vou destacar dois que me arrancaram lágrimas: “Morreste-me” de José Luís Peixoto e “Kafka à beira-mar” de Haruki Murakami.


Débora: Quando é que começou a escrever?


Lúcia: A escrita começou na adolescência como uma forma de me evadir da minha solidão e partilhar algo. Uma forma também de intervenção no que me rodeia e chamar a atenção para o que me desassossega.


Débora: Como descreve a sua escrita?


Lúcia: É uma escrita simples, fluída e descomplicada para todas as idades. Vem do fundo do meu coração e do meu desassossego.


Débora: Como surgiu a oportunidade de publicar o primeiro livro?


Lúcia: Eu já tinha um blogue com muitos dos contos do livro “Renomeados”, desenvolvi-os e aperfeiçoei-os. Foi a concretização de um desafio que tinha colocado a mim própria há já algum tempo.


Débora: Como decorreu o processo de edição?


Lúcia: O processo decorreu com toda a normalidade, mas na altura do primeiro livro houve uma boa dose de ansiedade e expectativa.


Débora: Como surgiram os títulos?


Lúcia: Os títulos surgiram depois dos livros escritos. No início, começo sempre com um título provisório que vai evoluindo com o livro. Uma dica do meu orientador de mestrado, títulos só no fim do trabalho, na verdade, aplica-se também para a escrita dos meus livros!


Débora: E, porquê “Percursos de insanidade”? Do que se trata a história?


Lúcia: O título do livro deriva da sinergia que se estabelece entre as personagens. “Percursos de insanidade” é um romance, apesar de ter 124 páginas é um romance muito completo e intenso, é aquilo a que eu chamo uma tragicomédia. E porquê? Porque encerra em si o humor: quem não acha hilariantes as partidas que a Maria Teresa prega à mãe? É a sua pequena vingança por viver num mundo de solidão, estigmas e crendice, é uma rebelião muito sua. Por outro lado, coloca-nos perante aspectos mais complexos e de densidade humana, digamos que essa é a parte mais trágica: a rejeição, o medo, o dilema de um sacerdote que tem de escolher entre a vida religiosa e a sedução por uma rapariga, a violência doméstica que um homem, que é alérgico ao trabalho, exerce quer sobre a figura da mãe quer sobre a figura da esposa. Como cai uma jovem nas malhas da violência doméstica? O que faz de um homem um potencial agressor? Deste entrelaçar nasce aquilo que eu apresento como “as personagens de percursos de insanidade têm em comum uma espécie de amputação psicológica. Da sinergia que se estabelece entre elas nasce a devastação, mas uma devastação consentida como se procurassem umas nas outras expiar as suas falências”.


Débora: Como é que é passar de escritora de crónicas a escritora de um romance? Quais são as principais diferenças e/ou semelhanças?


Lúcia: As semelhanças estão na composição e tipo das personagens, sempre amputadas de algo e é isso que as faz procurar o que as tornará, possivelmente, perfectíveis, só que elas não sabem que é esse o caminho que trilham, o que é emocionante! As diferenças estão meramente na extensão dos textos, nunca na profundidade da mensagem. Por exemplo, na crónica e no conto tens de demonstrar com mais perícia a tua mestria de escritora para transmitir uma mensagem profunda numa extensão menor.


Débora: Qual a sensação ao deslocarem-se a um centro comercial, e ver os seus livros à venda?


Lúcia: Ainda não tive o prazer de me deslocar a uma superfície comercial e ver os meus livros à venda. Infelizmente, dos livros editados pela Chiado, os que vejo à venda nas grandes superfícies são os do Pedro Chagas Freitas já sobejamente conhecido e já a trabalhar com outra editora. Temos de nos pôr em bicos dos pés para termos uma apresentação, por exemplo, na Bertrand e pelo menos durante esse período termos os livros em destaque, mas apenas no espacinho onde decorre a apresentação. Agora, tenho o enorme prazer de trabalhar com a Rota do livro, uma feira do livro permanente e itinerante que me tem ajudado a vender e aí sim tenho um enorme orgulho em ver os meus livros em local de destaque. É um dos meus momentos de partilha com o universo!


Débora: O que diz o seu coração?


Lúcia: O meu coração diz-me que persista, insista e nunca desista dos meus sonhos.


Débora: O que gostaria de dizer para finalizar esta entrevista?


Lúcia: Precisamente a continuidade do que respondi na questão anterior. Nunca desistam dos vossos sonhos nem se dispersem em relação aos vossos objectivos, muitas vezes o momento em que decidem desistir é quando estão quase lá...Sejam felizes, todos os dias!


Débora: Obrigada, muito sucesso para si!

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Foto: Concebida pela autora


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