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À CONVERSA COM LUCIMAR MUTARELLI

Escrever é tudo!

Lucimar Mutarelli é a abreviação de Lucimar de Souza Ribeiro Mutarelli que nasceu a 23 de Maio 1969. Considera-se quieta, curiosa e confusa. Gosta de estar rodeada da sua família, de ir ao cinema sozinha e de ficar em casa a ouvir música. Aos 40 anos publicou o seu primeiro livro: "Impessoal". Seguindo-se o segundo, em 2012 com a Editora Prumo: "Entre o trem e a plataforma", em 2013: "Férias na prisão", em 2015 com a Chiado Editora: "Terceira pessoa" e "Só aos Domingos".

Débora: Qual é o livro que mais a marcou até hoje?


Lucimar: Pedir para um escritor escolher um livro é o mesmo que pedir para uma mãe escolher seu filho preferido! Sendo assim vou escolher aquele que está mais próximo de mim neste momento: “O irmão Alemão do Chico Buarque” porque ele foi meu primeiro ídolo, o primeiro poeta que me apaixonei, curiosamente quando ele se voltou para a literatura me distanciei dele e agora este livro me reconquistou.


Débora: Quando é que começou a escrever?


Lucimar: Quando eu era criança a minha mãe, analfabeta, pedia que eu escrevesse cartas para seus parentes e amigos. Na adolescência eu adorava ler e responder a cartas, e era louca pelas aulas de redacção. Eu só preciso de um tema. Acho que sempre escrevo para o outro mas, às vezes, me perco e acabo escrevendo para mim. Nem sempre o recado chega. No meu aniversário de 40 anos. Eu queria fazer uma grande festa, e trabalhava em uma livraria. Meu marido e os amigos livreiros me apoiaram quando disse que tinha muita coisa guardada na gaveta e decidi bancar a publicação. Não tinha o dinheiro, pedi emprestado para o Rodrigo Teixeira, que hoje é o produtor do meu primeiro longa. Prometi que venderia 100 exemplares e devolveria o empréstimo. Ele não quis receber; disse que era um presente e que eu continuasse enquanto estivesse me divertindo. As meninas de Campinas, que estavam fazendo um trabalho com meu marido: Cris, Erica, Harumi e Bianca estavam montando uma editora e apresentei minhas ideias. Elas me ajudaram a por em prática.


Débora: E, como foi publicar o primeiro livro? Como surgiram os seguintes?


Lucimar: O primeiro é uma piada: “Impessoal” porque é meu livro mais autobiográfico. O primeiro romance (“Entre o trem e a plataforma”) surgiu durante a projecção de um filme do Felipe Hirsh, Insolação. Durante o filme tive a ideia da primeira e última cena da história de Laura, a protagonista. Que era a mesma cena; o livro começa pelo fim e termina no começo. O segundo romance: “Férias na prisão” me veio num sonho. Sonhei que estava presa e a minha única preocupação no sonho era que não tinha roupas para ficar muitos dias e, junto comigo, estava outra detenta e a transformei na minha amiga Suian Barros, livreira também e ficou fácil. O quarto livro, o primeiro pela Chiado era um recomeço. Fiz uma nova colectânea com alguns exercícios propostos pelos escritores Marcelino Freire e Ronaldo Bressane mais vozes que ouço na rua no metro no trem na minha família nos meus amigos e na minha própria cabeça também. O quinto, terceiro romance é uma homenagem a todas as mulheres que passaram pela minha vida: mãe, irmãs, sobrinhas, amigas, colegas de trabalho, professoras, actrizes, cantoras, desenhistas, fotografas, umas paqueras, uma namorada, personagens de livros, filmes, quadrinhos, entre outras, todas elas.


Débora: Quais são os seus momentos de inspiração?


Lucimar: Gosto muito de ficar em casa, escrevendo, no facebook, whatsapp. Pareço estar sempre conectada mas, na verdade, tenho muitos momentos que prefiro ficar sozinha e me retraio, me distancio e ouço muita música da minha infância e adolescência. É de onde tem saído muitas coisas que eu escrevo. Eu sempre achei que não tinha boa memória mas quanto mais eu escrevo mais eu lembro, é como se estivesse fazendo análise, terapia. Nunca fiz terapia com profissional mas meu marido conversa muito comigo.


Débora: Soube que o seu primeiro romance foi adaptado para o teatro, como está a correr o desafio?


Lucimar: Em parceria com a Dramaturga Vana Medeiros adaptei meu primeiro romance - “Entre o trem e a plataforma” para o teatro e acabamos de ganhar um prêmio pelo texto - Prêmio Miriam Muniz. Deve estrear no final de 2016.


Débora: Qual é a sensação ao deslocar- se a um centro comercial, e ver os seus livros à venda?


Lucimar: Eu fico enlouquecida e muito feliz é claro porque não adianta ter tanto trabalho e não conseguir fazer o livro chegar as mãos da pessoa mais importante da Literatura: o Leitor.


Débora: O que diz o seu coração?


Lucimar: Meu coração não diz nada. Ele só bate sem saber como canta o Arnaldo Antunes na minha playlist mental.


Débora: O que gostaria de dizer para finalizar esta entrevista?


Lucimar: Muito obrigada pela leitura e desculpa falar tanto.


Débora: Obrigada, muito sucesso para si!


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Foto: Concebida pela autora


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