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À CONVERSA COM MANUEL MARIA FIGUEIRA

O amor é a base para poder escrever!

Manuel Maria Figueira nasceu a 2 de Janeiro de 1950 e é uma pessoa sincera, sensível e leal. Gosta de estar com a família e os amigos, de ler e escrever. É reformado e em 2015 lançou o seu primeiro livro com a Cultiva Livros – "Raízes invisíveis".

Débora: Qual é o livro que mais gostou de ler até hoje?


Manuel: Não é fácil eleger um livro, mas elegeria “Cem anos de solidão” de Gabriel Garcia Marquez, e, em Português “A queda de um anjo” de Camilo Castelo Branco. O primeiro porque marcou a minha entrada no imaginário de Gabriel Garcia Marquez, num romance que toca todas as teclas dos mistérios e perplexidades da América Latina profunda, com uma genialidade que não é fácil observar-se na literatura dos últimos anos. Dizia-se que nos anos subsequentes todos os autores de língua Espanhola se limitavam a tentar reescrever, sem sequer se aproximarem, ao “Cem anos de solidão”. É um livro de conteúdo fabulosamente rico, que influenciou toda a literatura posterior. “A queda de um anjo” é também um livro marcante na literatura Portuguesa. Pelo humor requintado e pela criação de personagens muito bem caracterizados, em pinceladas de génio que não se vêm em outras obras de Camilo. É unanimemente considerado uma jóia do romance em Portugal, no qual o autor se esmerou numa lógica de rigor e coerência ao longo de todo o livro, que não se vê em outras obras suas que espelham a necessidade de escrever depressa e nem sempre esmeradamente, como é próprio de alguém com a urgência de escrever porque tem uma família a sustentar. Este livro escapou a essa lógica, mantendo ao longo do decurso da acção a marca do melhor que Camilo nos deixou. Um livro genial.


Débora: Quando é que ganhou o gosto pela escrita?


Manuel: Comecei a escrever mais regularmente em 2011, nessa altura estava a fazer companhia à minha mãe, muito dependente, e já com dificuldades em comunicar, passava longas horas em casa. Então comecei a escrever e a publicar no Facebook. Como o eco dos amigos que liam era cada mais entusiástico, elogiando a qualidade dos meus poemas, criei o gosto e o entusiasmo da poesia, que se tornou uma forma de expressão e comunicação com uma força que me surpreendeu. Desde então nunca mais parei de escrever e hoje sinto o forte apelo de o fazer, por entender muito profundamente que tenho muito a dar aos outros e a acrescentar a mim próprio. A publicação de “Raízes invisíveis” e eventualmente outra obra para a qual já tenho poemas suficientes nasceu também da influência e encorajamento dos amigos, embora não negue também uma velha aspiração pessoal de um dia publicar um livro. Hoje escrever é tão natural como respirar.


Débora: Como decorreu o processo de edição?


Manuel: Aí por Fevereiro do ano passado, andava às voltas com a ideia de publicar um livro, quando uma amiga que tinha publicado recentemente me enviou o contacto da editora Cultiva Livros. Depois foi tudo muito fácil. Como tinha todos os poemas prontos e transcritos no computador, marquei uma entrevista onde ficaram devidamente alinhados os 114 poemas. Uns dias depois recebi um contrato com proposta das condições de publicação, que eu aceitei, tendo então iniciado a fase de correcção mais rigorosa dos poemas para publicação. Foi um processo fácil e que correu, salvo alguns pequenos atrasos, conforme o acordado.


Débora: Como descreve a sua escrita?


Manuel: Quanto à minha escrita, penso ser muito autêntica, muito sincera e muito intuitiva. Com um estilo próprio, que mistura a filosofia empírica, com um lirismo de uma sensibilidade muito apurada, que decorre da minha forma de estar na vida, no respeito pelos princípios e valores que me foram incutidos. O AMOR é omnipresente na minha poesia, o que deriva certamente de uma busca constante de um amor idealizado, que contrastasse com os amores tão imperfeitos com que me deparei na minha realidade. A minha poesia tende a buscar a perfeição de um mundo imperfeito, e nessa ordem de ideias é também a sublimação das minhas imperfeições, a minha luta pessoal para, através da poesia, tentar encontrar o melhor de mim próprio e dar aos outros o que tenho de melhor. Apenas dizer que, como se depreende não estou muito familiarizado em falar de mim, daquilo que gosto e porquê, tanto mais que em mim tudo funciona de forma muito intuitiva, não obstante algumas influências que existem na minha poesia e, desde logo, um certo desassossego que tem algo de Fernando Pessoa.


Débora: O que gosta mais no seu livro?


Manuel: O que gosto no meu primeiro livro, é desde logo o ser o primeiro. Compara-se um pouco a ligação do autor ao livro, com o nascimento de um filho. O primeiro é, acredito embora não sendo pai, o primeiro confronto com esse manancial de sensações de tudo o que acontece pela primeira vez. Gosto também da autenticidade desse livro. Ele que consegue surpreender-me, não poucas vezes, a mim próprio, o autor. Diria ainda, como algumas vezes me tem sido transmitido, que a minha poesia tem um estilo próprio, e características que a diferenciam do que usualmente se faz hoje em dia. Agora tudo está em juntar a originalidade à qualidade, porque só assim a obra se valoriza. Quanto a isso, qualidade, sendo embora suspeito, penso que, apesar de algumas coisas menos conseguidas, tem qualidade suficiente para me orgulhar da obra.


Débora: Se pudesse, mudava alguma coisa?


Manuel: Na apresentação que fiz em Lisboa, a pessoa que apresentou o livro disse haver alguns poemas (2 ou 3) que parecia não se enquadrarem verdadeiramente no restante conteúdo do livro. Não nego que não tive a preocupação de seleccionar os poemas com essa lógica. Fui escrevendo e acabei por publicar mais ou menos pela ordem que os escrevi. Podia no entanto ter excluído esses dois ou três poemas. Quanto ao mais manteria tudo.


Débora: No que se inspira para escrever?


Manuel: Para escrever é conveniente estar-se apaixonado, por algo que se tem ou por algo a que se aspira. Um espírito apaixonado muda tudo. Então um amor não correspondido, ou ainda não correspondido, porque lhe subjaz sempre a esperança que mantém a chama acesa, é um mar de sentimentos por vezes contraditórios, como os movimentos das ondas, que são uma inesgotável fonte de poesia. Mas também as pessoas da nossa vida, o enquadramento social, o diálogo sempre fecundo com a natureza que mais nos toca, o nosso lugar. Mas o amor é a grande fonte de inspiração, porque é ele próprio na sua complexidade, o mais poético de todos os temas.


Débora: Tem novidades para breve?


Manuel: Estou a preparar um novo livro de poesia, que está em fase adiantada, com praticamente a totalidade dos poemas prontos, mas que ainda não sei quando irá ser publicado.


Débora: O que diz o seu coração?


Manuel: Acho que esta pergunta já está parcialmente respondida. Estou com 65 anos, uma idade que já pesa, em que se recorre muito às memórias e em que a realidade se relativiza. Mas apesar disso o meu coração será sempre o centro de todas as emoções, tanto na poesia como na vida.


Débora: O que gostaria de dizer para finalizar esta entrevista?


Manuel: Gostaria de aconselhar a que lessem muito. Bons livros são não apenas amigos, mas viagens, vivências que nos enriquecem e nos ajudam a firmar em bases sólidas a nossa personalidade. O mundo seria melhor se as pessoas lessem mais. É a minha opinião.


Débora: Obrigada, muito sucesso para si!


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Foto: Concebida pelo autor

Ler resenha do livro "Raízes invisíveis":

http://deboramacedoafonso.wix.com/dmacedoafonso#!RAÍZES-INVISÍVEIS/bs3vj/56e431610cf2d5aa219695f7


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