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À CONVERSA COM MARISA OLIVEIRA

Tudo começou com um diário!

Marisa Oliveira nasceu a 8 de Fevereiro de 1997 e considera-se pragmática e espiritual. Gosta de fazer jogging e ler. É lojista na firma FunnyShops e em Setembro de 2015 publicou com a Chiado Editora o seu primeiro livro – "Rasgar o charme".

Débora: Qual é o livro que mais gostou até hoje?


Marisa: Tenho dois livros que me marcaram imenso: “O que ela deixou para trás” da autora Ellen Marie Wiseman e “Mulheres apaixonadas” do meu autor preferido, D.H.Lawrence.


Débora: Como é que começou a escrever?


Marisa: Comecei a escrever aos 8 anos, quando o meu pai me deu um diário. Como ainda não sabia escrever muitas frases completas, fui escrevendo letras soltas... Aperfeiçoei-as por uns tempos, enquanto aprendia a escrever na escola. Passados uns tempos, comecei a relatar os meus dias sem expor qualquer tipo de sentimento. Algo do género “bom dia diário, hoje a acordei e fui tomar o pequeno almoço... Hoje aprendi x e y na escola, agora vou dormir”. Por volta dos meus 10/11 anos cansei-me de falar sobre mim, então passei a fazer relatos de dias imaginados na minha mente, que me faziam sentir mais feliz por interiorizar que estava noutro lugar e que era outra pessoa. Uns dias, era uma criança a mendigar nas ruas da cidade, outros era uma princesa real. A minha escrita foi-se tornando algo de abstrato e no início da adolescência apercebi-me que tinha uma imaginação bastante fértil, pois era raro o momento em que via a vida tal e qual como ela era. Se queria descrever um familiar meu, eu inventava várias qualidades que ele não tinha, só para que me fosse mais fácil aceitar os seus defeitos. Cheguei a fazê-lo comigo própria, pois todos temos aquela fase na vida em que nos apetece sair de nós próprios à velocidade de um foguetão por não nos aceitarmos. Quando dei por mim, já estava a escrever histórias com várias páginas, então aos 15 anos decidi levar a escrita mais a sério e escrevi o meu primeiro livro, que decidi nunca publicar por conter dados demasiado pessoais. Depois de terminar o primeiro livro, entendi que escrever centenas de páginas fazia-me sentir aliviada, menos ansiosa com as tribulações da vida e foi assim que até hoje não parei de escrever.


Débora: Como é que descreve a sua escrita?


Marisa: Descrevo a minha escrita como aquilo que dá um sentido à minha vida. Escrever vai muito além de sentar e teclar milhares de palavras, é um processo que consome um escritor 24 sobre 24 horas por dia. Eu posso até estar numa conferência importante, que as palavras que só a minha imaginação sabe onde vai buscar, invadem-me a alma. Tornei-me muito aérea por tanto escrever, sou uma pessoa distraída e por vezes demasiado ingénua por estar mais tempo atenta à minha imaginação, do que aos próprios acontecimentos da vida. Porém, é uma distracção benigna, pois livra-me de levar a peito certas situações e atitudes desumanas. A escrita é ao fim ao cabo, o meu refúgio, a forma mais crua de despir o meu ser e libertá-lo ao exibi-lo em meras folhas de papel. É complexo falar sobre o valor da escrita para mim, acho que conseguia escrever um livro inteiro a falar sobre o assunto.


Débora: Quando é que decidiu publicar um livro?


Marisa: A ideia de publicar um livro foi impulsionada pelo meu círculo de amigos há uns 4/5 anos, pois cada vez que compartilhava com eles as minhas ideias ele diziam “tens de escrever um livro sobre isso”, “o mundo adorava saber isso”. Passei a ouvir aquelas sugestões como um desafio e foi assim que levei a cabo a ideia de publicar um livro da minha autoria. Escrevi o primeiro com o intuito de o publicar, mas quando o revi senti uma espécie de sinal vermelho e uma vez que não sou de ignorar os meus instintos, passei então para o segundo livro (“Rasgar o charme”) e quando o revi após o terminar, apercebi-me que aquelas páginas já não eram um mero livro, mas sim um pedaço da minha alma. Agora sim fazia sentido aquilo que os meus amigos me diziam sobre o mundo precisar de saber sobre aquilo que eu escrevia, porque o “Rasgar o charme” é um romance que retrata parte daquilo que eu sou.


Débora: Como decorreu o processo de edição?


Marisa: Ao longo da edição, a Chiado Editora demonstrou-se bastante atenciosa e esclarecedora para comigo. Foi um processo fluído, com vários pormenores a tratar e questões a debater. Embora parte de mim se demonstrasse entusiasmada, estava incrédula com tudo aquilo que estava a acontecer.


Débora: Como é que surgiu o título?


Marisa: O título “Rasgar o charme” surgiu após um pesadelo. No mesmo, fui obrigada a assistir a violentos casos de tráfico de mulher, que me fizeram acordar carregada de palavras que a minha boca não conseguia verbalizar. Lembro-me de estar tão revoltada que sentia que o meu coração estava prestes a rasgar-me o peito. Também estava um pouco confusa, sem saber ao certo como lidar com o facto de pertencer a uma raça humana que é capaz dos mais monstruosos feitos. Quis falar, mas não sabia ao certo o que dizer, por isso o livro “Rasgar o charme” começou por ser uma história charmosa nos anos 20 sobre uma mulher que foi traficada, mas quando estava no 6º ou 7º capítulo reli o que já tinha escrito e pensei “não, este não é o livro que me irá expor ao mundo”, por isso rasguei tudo aquilo que já tinha escrito. Havia demasiado charme e cuidado nas palavras e eu rasguei tudo isso. Eliminei a minha tentativa falhada e decidi quebrar os meus próprios preconceitos e a esses preconceitos eu decidi resumi-los à palavra charme.


Débora: No que se inspira?


Marisa: Sem dúvida alguma que os meus escritores preferidos me inspiraram imenso, cada um à sua forma. Contudo, não foram só os preferidos. Até aqueles que não me tocaram muito através das suas palavras me inspiraram. Acredito que todos os escritores têm sempre de bom, algo a ensinar-nos. Podemos até ler histórias e considerá-las péssimas, mas inconscientemente elas vão-nos sempre influenciar de alguma forma. Mas, a maior fonte de inspiração de todas baseou-se mesmo nas pessoas que me rodeiam e naquilo que me fazem sentir. Tanto as que me entristecem, como as que me alegram. Tanto as que me odeiam, como as que me amam. Tanto as que me são indiferentes, como as que são mais especiais. São as pessoas que me inspiram na sua maioria, pela vasta complexidade que representam.


Débora: Se pudesse, mudava alguma coisa no seu livro?


Marisa: Achamos sempre que há algo a mudar, algo a melhorar... Talvez reduziria o grande número de adjetivos que utilizo no meu livro. Quando o estava a escrever, estava tão entusiasmada que achava que nenhum leitor seria capaz de entender aquilo que eu estava a sentir. Agora ao reler certos excertos penso “talvez me tenha excedido um pouco, poderia ter sido mais simples aqui ou ali, eles entenderiam”.


Débora: O que diz o seu coração?


Marisa: O meu coração não me diz nada, grita-me tudo. O meu coração grita por paz, desde criança que gosto de viver um pouco à parte dos outros por adorar tanto o silêncio. O meu coração grita por amor, apaixono-me com muita facilidade e é-me difícil arrancar alguém de mim. O meu coração grita acima de qualquer outra coisa, pelos meus sonhos. Penso todos os dias naquilo que quero alcançar e luto sempre por isso. Eu coloquei na cabeça que não ia esperar pela idade adulta para publicar um livro e não esperei. Tudo graças às ordens que só o meu coração me sabe dar.


Débora: O que gostaria de dizer para finalizar esta entrevista?


Marisa: Gostaria de dizer a cada uma das pessoas que estão a ler esta entrevista que são muito especiais e que nada na vida é impossível. Acreditar é diferente de sonhar, quando acreditamos os sonhos concretizam-se de verdade. Eu não acredito que existam muitas pessoas a sonharem da forma que eu sonho, porque eu olho a meu redor e vejo o mundo exterior a incentivar as pessoas a tudo menos a serem elas próprias. O ser humano foge à sua essência, deixa-se levar pela ridícula e grande massa humana. Para cada um que está a ler esta entrevista, eu gostaria de pedir que deixassem de uma vez por todas a vossa voz interior falar muito mais alto do que a voz do mundo, para que possam chegar ao final da vida com boas razões para ter cá estado e não com desculpas pouco convincentes de que “a vida não me permitiu voar mais alto”. Não é a vida que permite coisa alguma, és tu próprio(a).


Débora: Obrigada, muito sucesso para si!


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Foto: Concebida pela autora


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