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À CONVERSA COM RITA LESTON

O poder das redes sociais!

Rita Leston nasceu a 15 de Outubro de 1975 e considera-se determinada, leal e confiável. Gosta de música, do mar, de estar rodeada dos seus amigos e da companhia do seu filho. É oficial de justiça a tempo inteiro e em Março de 2015 publicou o seu primeiro livro com a editora Lua de Papel – “Gosto de ti, e então?”.

Débora: Qual é o livro que mais a marcou até hoje?


Rita: Não consigo eleger um único livro que me tenha marcado. Comecei, assim que aprendi a ler, a consumir livros, fossem de banda desenhada ou para crianças. Tive a sorte de crescer entre os livros (e música) e sempre vi os meus pais e avó a ler. Herdei os livros de criança da minha mãe e enfiava-me dentro dos cobertores com uma lanterna a ler até mais tarde do que me permitiam. De manhã, não me levantava logo da cama e trocava a televisão por um qualquer livro que tivesse. Andei muitos anos sempre com um livro atrás e acho que li de todos os géneros, consoante as fases da minha vida. Li quase tudo de Enid Blyton enquanto cresci; li muita banda desenhada do Lucky Luke, Astérix, Tin Tin e afins; li imensa ficção científica; li romances de cordel, li Agatha Christie e outros tantos policiais. Ainda não devia ter 15 anos e já tinha lido tudo o que Florbela Espanca tinha editado, por conta de assaltar a biblioteca da minha avó. Com muita pena minha consoante o tempo foi passando, foi também escasseando e deixei de conseguir ler um livro por semana. Hoje em dia não consigo ter tempo para ler da forma que gostaria e é de menos o tempo que dedico à leitura. Leio muita coisa online, muitos artigos e crónicas. E acumulo livros na mesa de cabeceira, que vou lendo conforme posso ou esperando pelo Verão para os ler na praia ou numa esplanada. Não consigo eleger um só livro que me tenha marcado. Acho que todos eles fazem parte do meu imaginário, dos meus sonhos e do meu crescimento. Gosto muito de Miguel Esteves Cardoso, de Florbela Espanca e de Eça de Queirós, por exemplo. Tudo o que li, tudo o que aprendi, o que conheci, tudo o que vivi, faz parte de mim e de quem sou. É a vida que me impulsiona a escrita e o sentir. A escrita vem de dentro de mim, como tal é uma parte que existe sempre em mim. Quem fala de amor, por exemplo, tem de o ter sentido. Têm de se saber o que são saudades para se poder falar delas. Se se falar de sentimentos sem os ter tido dentro de nós penso que se torna numa escrita vazia e banal. É a viver que se aprende a escrever.


Débora: Quando é que começou a escrever?


Rita: Primeiro surgiu a página do Facebook onde eu decidi escrever uns pensamentos para aquilo que supunha ser o vazio. Só que a página foi crescendo, os fãs foram chegando e comentando e começou a tornar-se numa coisa mais séria. Eu, que não assinava o que escrevia, vi-me confrontada com o facto de quem me lia começar a pedir um livro, coisa que, ao início, não me fazia sentido. Com o decurso do tempo e com a insistência de quem me lia acabei por decidir fazê-lo. Tive a sorte de ser contactada pela minha editora, a Lua de Papel, que me tem acompanhado brilhantemente, e ter conseguido editar o livro com eles.


Débora: Quais foram os motivos que a levaram a criar a página no Facebook?


Rita: A decisão de criar a página foi minha, onde ninguém mais teve intervenção. Criei-a porque senti, de alguma forma, necessidade de “deitar cá para fora” aquilo que me ia na mente. São desejos de algo que se espera, são sonhos que se querem construir, saudades que se acumulam, são birras com que se acorda, pensamentos onde nos perdemos, são vivências da vida que vou vivendo. O motivo, ao início, foi muito egoísta: despejar no éter - eu achava que escrevia para o vazio e que ninguém me leria - uma série de considerações e, com isso, tornar-me mais leve. Como se fosse um pouco terapêutico.


Débora: Mas isso mudou, não? Como é que foi aperceber-se que tinha muitos seguidores e que afinal não escrevia para o vazio?


Rita: Não houve uma data em que me apercebi que tinha muita gente a seguir o que escrevo, fui-me apercebendo com o tempo. A reacção natural é de estupefacção, mas nada muda. Não sei deixar de ser eu, de escrever quando e como me apetece, sem barreiras, medos ou imposições. Mesmo quando decido passar a assinar o que escrevia, nada se alterou. Apenas o fiz quando me senti preparada para tal.


Débora: E, como é que reagiu ao saber que tinha ali um grupo de pessoas que não a conhecia mas que gostavam imenso das suas publicações?


Rita: Costumo ouvir (ou ler) muitas vezes que leio aquilo que se passa dentro da cabeça das pessoas, que se identificam, que lhes ponho o pensamento em ordem e reduzo a escrito a forma como se sentem. Que sei explicar, de alguma forma, aquilo que querem e precisam. Leio muitas vezes que é como se estivesse a ler-lhes o pensamento e que lhes entrava na cabeça e aquilo que, ao início, eu pensava era um pouco diferente: porque é que estão todos dentro da minha? Eu penso assim, porque pensam como eu? Acho que cheguei à conclusão de que somos todos muito parecidos e temos objectivos semelhantes. O ser feliz e o querer paz. Aquilo que nos distingue é a forma como lá chegamos e as coisas a que damos importância.


Débora: Como é que surgiu a oportunidade de publicar um livro?


Rita: A oportunidade de editar o livro surge através de uma leitora da página que estava ligada à editora com a qual trabalho, que me pediu que fosse enviado o início do livro para ser avaliado. Gostaram e decidiram ir em frente e apostar no meu trabalho. A quem pretenda editar um livro, não menospreze o poder das redes sociais. Hoje em dia, parece-me, é a maior ferramenta que se encontra ao dispor de todos nós para darmos a conhecer o nosso trabalho. Ferramenta gratuita, mas que necessita de constante atenção e empenho a fim de serem alcançados objectivos sólidos, ainda que com passos lentos, mas, sem dúvida alguma, consistentes.


Débora: Porquê “Gosto de ti, e então?” ? Como surgiu o título?


Rita: O título vem como que seja uma constatação. “Gosto de ti, faz o que quiseres com isso que eu não vou alterar nada”. Como que seja um desafio, uma certeza. Um “vou-me manter assim independentemente do que faças” ou “mexe-te que estás atrasado”. Não sei bem como surgiu, mas foi desde o primeiro momento em que decidi criar a página que o nome me soou apropriado para o que pretendia escrever.


Débora: Como foi o processo de edição?


Rita: O processo, no meu caso, foi realmente muito rápido e fácil, não tenho, felizmente, a experiência de andar em trocas de manuscrito com a editora. Tenho a sorte de ser perfeccionista no que faço e, quando o enviei, foi porque para mim estava correcto e terminado. Tive ainda mais sorte pois o meu editor (e toda a sua equipa) foram maravilhosos e me fizeram um acompanhamento como creio existir poucos, sendo que foram mínimas as correcções efectuadas.


Débora: O que diz o seu coração?


Rita: Diz-me que seja sempre verdadeira e leal. Que, mesmo contra o lado racional, o siga sempre. Que quando se quer algo, se deve lutar por isso. E que ninguém morre de amor, mas que se pode perder por não tentar. Que o siga sempre, mesmo na dúvida. Que tire todas as minhas dúvidas e não fique com perguntas por responder. O meu coração diz-me que é ele que manda em mim: e tem razão.


Débora: O que gostaria de dizer para finalizar esta entrevista?


Rita: A quem me lê digo que nunca pare de lutar, seja por um sonho, um objectivo, um amor. Que escolham apenas as batalhas que fazem sentido e as levem até ao fim. Que parem para pensar e se oiçam a si mesmos. E aos outros. E que acreditem que, mesmo no meio de algum caos, a vida está bem feita e nos recoloca no sítio certo. Se nós deixarmos.


Débora: Obrigada, muito sucesso para si!


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Foto: Concebida pela autora


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