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À CONVERSA COM SARA JOÃO FONSECA

Escrever sempre foi a sua paixão!


Sara João Fonseca nasceu a 29 de Maio de 1975 e é uma pessoa observadora, divertida e criativa. Gosta de conviver com a família e os amigos, ouvir histórias, fotografar, viajar, nadar e ler. É Psicóloga e Escritora e publicou em Novembro de 2014 o seu primeiro livro com a Chiado Editora – “Os espelhos de Tükor”.

Débora: Como é que uma psicóloga se apaixona pela escrita?


Sara: Particularmente, esta questão está do avesso… No meu caso pessoal, a questão correcta seria: “como e quando é que uma escritora se apaixona pela psicologia”? Na verdade, os objectos de escrita – caneta e lápis – encontravam-se sempre nas minhas mãos, mesmo quando estas, ainda tão pequenas, mal os sabiam segurar. O papel podia ser qualquer um, ou melhor, “qualquer coisa”, fosse ele uma folha solta, um livro de literatura, o próprio papel de parede ou até um sofá a estrear que tinha acabado de ser entregue em casa. Desde que tenho consciência de mim, da minha existência, lembro-me que tudo servia para escrever. Inicialmente, os símbolos que apareciam escritos eram similares a estranhos hieróglifos que, provavelmente, ninguém conseguia decifrar. Mas, entretanto, surgiu a época escolar e a sala de aula do colégio tornou-se num reino de aventuras… Em todas as letras novas que aprendia, percebia, maravilhada, que se as juntasse de um determinado modo, elas formavam pequenas caravanas a que chamavam palavras; e as palavras interligadas formavam grandes comboios a que chamavam frases. Uau! Eram trilhos tão bem alinhados que chegavam a formar linhas por onde corriam caravanas e comboios apressados. Era esta a minha maior aventura: entre caravanas e comboios impressos, descobria sempre uma história fantástica. E de tantas histórias que encontrei, um dia explodiu o desejo maior de formar os meus próprios carris com caravanas e comboios cheios de pressa a escapulirem pelas inúmeras linhas que eu haveria de construir com a minha imaginação. E assim fui escrevendo, sempre escrevi, porque (como sempre digo) se não escrevesse, não seria eu mesma. A escrita traz-me paz e plenitude, permite-me transcender as dimensões físicas, escutar as vozes sem identidade que existem dentro de mim e aspirar ao silêncio que tanto retempera os meus dias. A psicologia representa a paixão que tenho sobre os mistérios de um maravilhoso microcosmo, a que chamamos “mente humana” e confesso que, muitas vezes, é a própria psicologia existente entre a vida vivida e a vida contada que me dá a bagagem essencial para as viagens que realizo na escrita.


Débora: Como concilia o emprego com o escrever?


Sara: Actualmente, eu diria que conciliar as várias actividades diárias que tenho, é como estar envolvida, todos os dias, num verdadeiro campeonato em que, constantemente, estou a competir comigo mesma. O trabalho prático e todas as outras ocupações são sistemas que se desenvolvem com alguma independência e automatismo. Mas o processo criativo, a arte da escrita é uma dimensão que exige serenidade, ponderação e uma solidão voluntária. Não é por acaso que, desde pequena, sempre escrevi em modo reservado, intimista e solitário e, por isso, até à publicação da obra “Os espelhos de Tükor”, eu nunca tinha submetido os meus escritos aos ecos do mundo.


Débora: Como decorreu o processo de edição?


Sara: Correu muito bem. A Chiado Editora foi a primeira e única editora para onde enviei o original d’ “Os espelhos de Tükor”. Decorridos dez dias, recebi uma proposta de edição que posteriormente se transformou em contrato. Reafirmando o que, um dia, escrevi numa outra entrevista, a Chiado Editora tem uma equipa jovem, talentosa, muito profissional que desde sempre me acolheu, me apoiou e me tratou com simpatia, gentileza e amabilidade. O trabalho de edição da obra foi realizado com atenção, zelo, confiança e um imenso respeito para com a manifesta vontade da autora. O resultado foi o melhor e a minha gratidão permanece.


Débora: Qual foi a sensação de ter pela primeira vez um livro da sua autoria nas suas mãos?


Sara: Inicialmente, eu senti que tinha realizado uma obra com sentido de missão e propósito, porque trabalhei com perseverança e honestidade. Depois senti uma felicidade tranquila de quem chegou a bom porto. Mas em todos os momentos agradeci humildemente a Deus pelo dom que me ofereceu, pela inspiração que me deu, ciente de que tudo o que de bom posso realizar, será sempre consagrado para Sua honra e glória.


Débora: Mudava alguma coisa no seu livro?


Sara: Absolutamente nada! Se tivesse tido mais tempo para escrever a história, apenas e provavelmente teria consentido que ela crescesse um pouco mais em algumas passagens.


Débora: O que pretende que as crianças aprendam com o seu livro?


Sara: O livro “Os espelhos de Tükor” foi escrito para crianças e jovens dos 8 aos 12 anos. Na realidade, eu nunca fiz um plano preliminar da história, nem tão pouco fiz uma descrição minuciosa sobre o tempo, o espaço, a acção, o enredo e as personagens. Apenas considerei a mensagem importante que queria transmitir e nela incluí valores fundamentais como o amor, a família, a saudade, a aceitação e a amizade. Criei uma história capaz de despertar as mais bonitas e enraizadas emoções, uma história em que as crianças podem identificar sempre algum sentimento particular, algum momento especial da própria vida. Quando terminei de escrever a obra, percebi que afinal ela também contém conceitos pedagógicos válidos para os adultos, princípios essenciais que têm a possibilidade de relembrar, os mais crescidos, sobre o que é verdadeiramente importante na vida. Surpreendente e interessante, é verificar que, de facto, todos os adultos que lêem o livro, e dão a sua opinião, reclamam a história para eles. Das duas hipóteses, uma: ou eu errei completamente no público-alvo definido, ou superei todas as expectativas dos leitores.


Débora: O que diz o seu coração?


Sara: O meu coração conta a vida que existe dentro de mim, aquela vida que transparece a sustentável leveza do meu ser, aquela vida que mantenho intocável e que, instintivamente, procuro imunizar. O meu coração é um lugar sagrado que pulsa ao mínimo tremor de afecto, um lugar ancestral de onde desponta tudo o que me é mais arraigado: as minhas susceptibilidades, as minhas esperanças, os meus sonhos. É ele a minha bússola, o norte que me guia e revela, todos os dias, os pontos cardeais da minha sensibilidade.


Débora: O que gostaria de dizer para finalizar esta entrevista?


Sara: Aos leitores deste e outros blogues reitero uma mensagem especial que, meditando, escrevi há algum tempo e transformei na insígnia da minha vida de escritora: “um LIVRO é um verdadeiro organismo vivo que nasce, respira, pulsa, pensa, sente, cresce, amadurece, vive... mas nunca, nunca morre”. Desejo a todos uma existência feliz, plena de amor e consolidada em livros sublimes, quiçá, perpetuando na memória afectiva “Os espelhos de Tükor”.


Débora: Obrigada, muito sucesso para si!


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Foto: Concebida pela autora


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