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À CONVERSA COM SARA RODRIGUES DA COSTA

Escrever é divertido!

Sara Rodrigues da Costa nasceu a 18 de Julho de 1990 e é uma pessoa observadora, calma e trabalhadora. Gostar de ir ao cinema e teatro, beber café com os amigos e ler. É a Co-fundadora do Delphos e trabalha em comunicação numa galeria de design de mobiliário. Publicou os seus três livro com a Chiado Editora - em 2011 “Quando a palavra era um verbo”, em 2014 “Próxima paragem” e em 2015 “Regresso a casa”.

Débora: Quando é que começou a escrever?


Sara: Não sei ao certo. Lembro-me de já ter este “bichinho” da escrita em criança. De escrever pequenas histórias e poemas e oferecer à família no Natal. No entanto, na altura da adolescência, acho que tinha uma certa vergonha e escrevia menos. E quando escrevia não mostrava a ninguém. Só mais tarde, na altura em que um tio meu poeta morreu (Joaquim Castro Caldas) é que retomei mais a sério. Na altura, a mulher do meu tio encorajou-me e disse-me que o meu tio falava dos meus poemas e que um dia eu ainda ia escrever um livro. Isso ficou-me na cabeça e a partir daí nunca mais parei.


Débora: E, o que é que mais gosta quando escreve?


Sara: É difícil escolher uma só coisa. Escrever é quase um processo

de catarse mas ao mesmo tempo é divertido. É quase como tirar uma fotografia para recordar mais tarde. Só que o registo é feito através de palavras e pode ser tanto uma observação do mundo como de nós próprios.


Débora: Como foi que surgiu a publicação do primeiro livro?


Sara: A publicação do primeiro livro surgiu um pouco por acaso. Um tempo depois desse meu tio poeta morrer e de eu voltar a escrever, decidi juntar num livrinho vários poemas que tinha, um pouco como homenagem a esse meu tio. Não planeava publicar. Só que, dessa vez, acabei por mostrar o livro a algumas pessoas que me disseram para enviar para editoras, só por curiosidade, para ver o que diziam. Na altura tive algumas respostas positivas que não estava à espera mas optei por não publicar logo. Acho que sentia que não tinha nada de novo para dizer ao mundo. Só que mais tarde percebi que também não tinha essa responsabilidade de dizer algo novo ao mundo, podia dizer apenas o que eu sei e, com sorte, talvez isso dissesse algo de novo a alguém. Assim, cerca de um ano depois acabei por decidir avançar com a publicação.


Débora: E os seguintes, como é que se sucederam?


Sara: Entre o primeiro e o segundo livro houve uma certa mudança no modo como eu via isto da escrita. O primeiro aconteceu por acaso. E na altura eu via a escrita só como um hobby que ia fazendo quando podia. Mas depois, com a evolução da minha vida profissional e sendo obrigada a gerir melhor o meu tempo percebi que a escrita tinha um papel muito mais importante do que eu pensava e que tinha de tomar certas decisões na minha vida profissional se queria ter mais tempo para a escrita. Foi aí que decidi dedicar-me de forma mais séria a escrever e assim, surgiu o segundo livro, o primeiro de ficção, e agora um terceiro.


Débora: Falando da sua última publicação, porquê “Regresso a casa”?


Sara: É um “Regresso a casa” que significa várias coisas. Esta ideia de casa de que falo é muito abrangente. É voltar a casa no sentido de voltar à poesia (o meu livro anterior foi de prosa) porque acho que os poemas têm esse lado giro, pelo menos para mim. Ou seja, quando estou muito tempo a escrever ou a ler prosa voltar à poesia sabe sempre como voltar a casa. Mas é também um regresso a casa noutros sentidos. A casa pode ser muita coisa, pode ser qualquer lugar, verdadeiro ou utópico, um lugar que lembramos ou que inventamos, é quase como um lugar que nos dá colo. E esse lugar vem no livro representado de várias formas, desde locais físicos a pessoas. Mas é também um lugar que se vai transformando. Apesar de este livro ter uma certa carga quase melancólica e falar muito do passado, apela também a uma certa renovação... Porque a verdade é que casa é o presente e o presente muda, o meu eu de amanhã já não será este meu eu de hoje. Às vezes é preciso revisitar o passado para trazer o futuro e às vezes isso significa voltar a uma casa para percebermos que ela já não é casa. É como voltarmos à casa onde vivíamos quando éramos pequenos... Apesar de ter sido casa e de ter sido um lugar marcante na nossa vida agora já não é casa, porque está tudo diferente, porque as coisas agora parecem mais pequenas, porque vivem lá novas pessoas...


Débora: Mudava alguma coisa nos seus livros?


Sara: Quando leio os meus livros encontro sempre alguma coisa que acho que poderia estar escrita de uma forma melhor, até porque o meu primeiro livro tem poemas que escrevi com 15 anos. É normal reler alguns e achar infantis. No entanto, acho que não mudava nada porque este crescimento faz parte. Apesar de hoje em dia achar que poderia ter escrito algo de forma melhor... Acredito que se na altura não o conseguia expressar de outra forma é porque tinha de ser assim. A literatura tem esse lado de mostrar os sentimentos e capacidades de quem a escreve mas também as suas limitações. E as limitações fazem parte do caminho.


Débora: No que se inspira? Quais são as suas influências?


Sara: Inspiro-me no que vai acontecendo na minha vida e à minha volta. Quando preciso de inspiração vou escrever para a rua. Observando o mundo surgem sempre ideias. Também leio muito. Acho que sem ler não consigo escrever. Portugal é um país riquíssimo em boa literatura por isso a maioria das minhas influências são autores portugueses contemporâneos.


Débora: Já alguma vez se deparou com alguém a ler um livro seu? Como foi esse momento?


Sara: Já me aconteceu conhecer pessoas e dizerem-me que já leram um livro meu. É uma sensação muito boa perceber que os nossos livros chegam a mais pessoas (para além da família e amigos). Isto da escrita tem um pouco de solitário. E o momento em que percebemos que o livro deixou de ser só meu e passou a ser também de quem o lê é óptimo.


Débora: O que diz o seu coração?


Sara: Diz que isto da literatura pode não salvar ninguém mas tem sido suficiente para me fazer feliz.


Débora: O que gostaria de dizer para finalizar esta entrevista?


Sara: A quem ler esta entrevista digo apenas que, por mais clichê que pareça, o mais importante é fazermos aquilo que gostamos. A partir do momento em que decidimos lutar pelas coisas que queremos e pelos nossos objectivos, o resto torna-se secundário e as dificuldades mais fáceis de superar.


Débora: Obrigada, muito sucesso para si!


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Foto: Concebida pela autora


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