À CONVERSA COM TRISTÃO DE ANDRADE
Poesia é mais do que um estilo literário!
Tristão de Andrade nasceu a 15 de Setembro de 1979 e considera-se curioso, amistoso e inconformado. Gosta de pintar, produzir música e de escrever. Encontra-se actualmente atrás do projecto Casa Cultural Tristão de Andrade e publicou em 2012 o seu primeiro livro – “Nós”.
Débora: Qual é o livro que mais gostou de ler até hoje?
Tristão: “Apologia de Sócrates” - basicamente porque nos oferece todas as ferramentas para iniciarmos o processo da pergunta.
Débora: Quando é que começou a escrever?
Tristão: Comecei a escrevei aos 14 anos, e sempre no estilo poético. Nunca deixei de seguir aquelas linhas que tinham como objectivo “dizer” a rimar. Honestamente nunca me perguntei porque o comecei a fazer, acho que é algo tão natural e necessário em mim que nunca me questionei sobre os motivos de escrever. Talvez encontre paralelo na respiração. Talvez.
Débora: Quando é que surgiu a oportunidade de publicar um livro? Como decorreu o processo de edição?
Tristão: Em 2011 surgiu a ideia de publicar um livro que reunia alguns textos poéticos escritos entre 2004/2010. Foi feita uma selecção e principalmente foram lançadas as fundações que serviriam de cimento à obra. A edição é sempre um momento de dúvida e escolha só comparável ao sentimento de paternidade. Fazer o quê e como? Que caminho escolher? É possível escrever poesia com transmissão de sentimentos e simultaneamente angariar sentimentos e opiniões? Assim, e terminado o processo de escolha de textos surgiu a oportunidade de editar através da “Chiado” e alguns meses mais tarde o livro estava materializado.
Débora: E, porquê “Nós”?
Tristão: Inicialmente o livro estava pensado para se chamar: “Páginas de mim”. No entanto e por achar que estaríamos a tratar de um tema mais abrangente que propriamente as “minhas páginas” decidi alterar para aquilo que realmente é o livro: Nós. Na sua essência a poesia somos nós, nós nas diferentes formas de pensar, agir e sentir. Igualdade pela diferença mas também pelas diferenças similares. Quando falamos jamais o fazemos em nome próprio, e deixamos permanentemente uma porta aberta para alguém se identificar. E que outra coisa não é a poesia senão um ponto de reunião entre indivíduos?
Débora: E, como é que foi feita a selecção dos poemas para constar no livro? Mudava algum?
Tristão: Não, não mudava nada. A identidade de um livro é construída com todas as suas páginas. Se existisse a oportunidade de alterar um texto o livro deixaria de ser o mesmo. Aqueles poemas foram escolhidos num tempo determinado, e em condições especifica da altura, em conformidade com a época, temperatura geral e manifestação intelectual. O processo de selecção dos textos encontra novamente paralelismo na construção de um empreendimento. Os poemas são dignos tijolos carentes de cimento que os una e garanta consistência. Eu limitei-me a dar um sentido, uma estrada, a cola necessária para obter um resultado final único e promissor. São poemas amplos que partem de regime fechado para aberto, isto é, do meu pensamento para o pensamento geral. Não são poemas espelho, são textos de horizonte.
Débora: Qual é a sensação de ter pela primeira vez nas suas mãos um livro da sua autoria?
Tristão: A sensação é agradável, o culminar de horas de pensamento, escrita, reflexão e exercício da acção de “dar”. Não vejo a publicação como um objetivo fundamental, mas reconheço a sua importância. Consigo equiparar o sentimento à construção de uma casa onde no final convidamos todos para dentro dela.
Débora: O que diz o seu coração?
Tristão: Que o mundo é um lugar de todos e para todos, e por assim ser temos a obrigação de o cuidar, e preservar. Devemos emprestar a quem não tem, e partilhar o que conseguimos alcançar. Assim chegaremos mais longe. E este é um caminho que deverá ser feito. O meu coração pede aos Homens menos política e mais poesia, menos ordens e imposição e mais versos e entendimento. Será assim tão complicado entender que todos desejamos o mesmo?
Débora: O que gostaria de dizer para finalizar esta entrevista?
Tristão: Adoraria conseguir transmitir o sentimento fundamental que me faz viver: a poesia não é um estilo literário mas antes uma forma de vida. Não devemos pensar em poesia em termos redutores, isto é, jamais reservar a sua identidade aos simples poemas de rimas e amor. A poesia é mais mundo, é muitos mundos, pode ser mesmo adoptada como universo. Viver em poesia é partilhar de princípios universais de amor, paz e esperança. Poesia é sentir, escrever, ler, falar mas sobretudo viver mesmo que não rime, pois o importante, é sermos felizes.
Débora: Obrigada, muito sucesso para si!
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Foto: Concebida pelo autor