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O 2 EM 1 DE SARA ANA MACEDO AFONSO

"Infinito/Somos feitos da mesma terra" é a terceira obra que marca a carreira da Sara Ana Macedo Afonso na literatura.

Sara Ana Macedo Afonso tem 28 anos e nasceu em Paris, mas cedo se instalou na aldeia da família, onde actualmente mora e trabalha como pasteleira e ajudante de panificação. Tem já mais dois livros publicados: “Enquanto o tempo quiser” (2008) e “Ver-me nos teus olhos” (2010), faz, também, várias participações em jornais e blog’s (Capazes, Revista Catarina Lucas, Sobre Livros). Este seu terceiro livro publicado pela Edições Vieira da Silva, reúne duas histórias por assim dizer, num só livro. Tendo duas capas diferentes, tem, portanto, dois títulos diferente.

"Infinito" é uma história amorosa, contada através de textos poéticos, relatando as várias fases de uma relação a dois. Podem também, ser considerados desabafos de um amor, que estão divididos em três partes: amor, desilusão e esperança. A cada virar de página vamos descobrindo um pouco mais do que pode ser um relacionamento, acabando imensas vezes por nos identificarmos com o que estamos a ler. São poemas intensos, arrebatadores e muito emotivos.

"Somos feitos da mesma terra", o outro lado deste livro, aborda diversos temas, podendo por isso encontrar poemas que falam sobre a família, os amigos, o que pode ser a morte, o desespero do amanhã, a alegria de viver, a esperança de um mundo melhor. São poemas de uma grande sensibilidade, profundos, que buscam atingir o mais ínfimo sentimento que existe em nós.

De forma geral, a Sara está cada vez melhor, não esquecendo aquilo ao que ela já nos habitou, uma escrita simples, fluída e verdadeira.

É sem dúvida um momento de leitura muito agradável. Aconselho vivamente este 2 em 1 da Sara.


Infinito - "Infinito" E se o mundo acabasse amanhã O que me dirias agora? Prometer-me-ias me amor eterno, num abraço desesperado Num fôlego apaixonado, num beijo intenso Intensamente demorado, louco, forte… Seriamos um só corpo desejando ser uma só alma… Partilharíamos segredos, sorrisos, toques e ilusões. Construiríamos sonhos… No tempo que o tempo deixasse, Viveríamos o infinito!


Esperança! - "Somos feitos da mesma terra" Ainda não nasci, Mas a minha mãe diz-me que estamos em tempo de guerra. O sol já não aparece, Vivemos debaixo de um nevoeiro denso e frio, Parecemos almas penadas. Andamos nus, feios e sonolentos. Deus, partiu! Cansado, desiludido, completamente petrificado, Não aguentou ser chamado de tantos nomes, do invocarem em vão tantas vezes, De usarem o seu nome para actos bárbaros. E partiu, simplesmente… A minha mãe diz que já não há livros, nem música. Já ninguém trabalha, não há escola. Ninguém governa, não há presidentes. Cada um por si, e a fome por todos… Os velhos ficaram esquecidos, os jovens cegaram! O respeito, Ainda não sei bem o que isso é, mas a minha mãe diz que já não existe, E que já nem se lembra o que é, por isso nunca me poderá ensinar. A liberdade, Já não faz sentido, apenas existe medo. Muito medo. Já não é seguro andar na rua. Já não há risos e doces. Alguns desistiram de viver, entregando-se à loucura. Entregando-se à demência. Empunham armas e bombas, espalhando o pânico e o horror. A minha mãe nem sabe como eu ainda sobrevivo dentro dela. Sinto-a a chorar baixinho, a esforçar-se para não se esquecer da sua humanidade. Todos os dias abraça o meu pai, reza a Deus para que ele volte. Todos os dias abre os olhos e sorri para mim. Sinto-a a chorar de medo, de fraqueza, de dor. A minha mãe nem sabe como eu ainda sobrevivo dentro dela. Mas eu sei… Ela ainda tem esperança!

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Imagem: Concebida pela autora


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